Modelos são mais
baratos e não sofrem a mesma desvalorização que os veículos zero quilômetro
Preço. Bruno Lima pagou só quatro parcelas e fez um lance por um veículo usado: “o zero quilômetro está muito caro” - Edilson Dantas |
SÃO PAULO - O
consultor tributário Bruno Lima pagou apenas quatro parcelas de seu plano de
consórcio e arriscou um lance para tentar antecipar a compra de seu veículo.
Teve sorte, foi contemplado e, em vez de um veículo zero quilômetro, comprou um
Fiat Palio ano 2010. Pagou R$ 21 mil em um carro com ar-condicionado, direção
hidráulica e trava elétrica, e quitará a dívida com o consórcio nos próximos
dois anos, em parcelas de R$ 650.
— Optei pelo
usado para fugir da desvalorização que os carros novos sofrem logo que saem das
concessionárias, entre 15% e 20%. Além disso, o zero quilômetro está muito caro
— conta.
A opção de Lima,
por um modelo usado em vez do zero, reflete uma mudança de comportamento entre
os clientes de consórcios que se acentuou de 2014 para cá, com o agravamento da
crise econômica. A média mensal de veículos usados comprados por meio dessa
modalidade de crédito foi de 24,4 mil unidades em 2016, quase três vezes mais
do que os 8.600 carros zero quilômetro. Apenas nos últimos três anos, a compra
de usados com as cartas de crédito de consórcios cresceu 56,4%, enquanto a de
novos recuou 34,3%.
— É um efeito da
crise. E também há uma mudança de comportamento do consumidor, que está
preferindo um veículo usado com mais acessórios do que um zero básico, gastando
menos — diz Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da Associação Brasileira
de Administradoras de Consórcios (Abac).
Com uma carta de
crédito de pouco mais de R$ 36 mil em mãos, a vendedora Aparecida Diniz foi
sorteada e optou por um Fiat Siena ano 2014, com mais acessórios, como
ar-condicionado.
— Em um modelo
zero, eu gastaria mais para colocar os acessórios. Ao escolher um usado, já
pego um carro mais completo — explica a vendedora.
Especializado no
mercado automotivo, Raphael Galante, consultor da Oikonomia, diz que a
tendência de comprar veículos usados por meio de consórcio também está acontecendo
nas compras à vista e nos financiamentos feitos pelos bancos. A Fenabrave, a
federação das concessionárias, registrou uma queda de 20,1% nas vendas dos
carros zero no ano passado. Já os números da Fenauto, entidade que representa o
setor de seminovos e usados, mostram crescimento de 24% das vendas de veículos
com até três anos de uso, em 2016.
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— Hoje, existem
montadoras que oferecem garantia de até cinco anos. O consumidor que opta por
um usado com três anos, ainda leva dois anos dessa garantia, mas paga um preço
bem mais em conta pelo veículo do que se comprasse zero — ressalta Galante,
lembrando também que o preço dos veículos novos subiu em 2016, mesmo com a
queda de vendas.
PRÓS E CONTRAS
O reajuste
variou de modelo para modelo, mas, em média, não ficou abaixo de 10%.
Uma simulação
feita pela Abac mostra que, para adquirir um carro de R$ 40 mil em 60 meses
pelo sistema de consórcio, o consumidor começa pagando uma prestação de R$
756,67 e termina o plano pagando R$ 851,63. O carro sairá por R$ 48.206,95, uma
variação de 20,5% em relação ao valor inicial. Na simulação, a Abac usou taxa
de administração média de 0,225% cobrada pelas empresas de consórcio e reajuste
de 3% ao ano na prestação. Mas esses valores variam conforme a empresa.
— O consórcio
não tem juros e cobra apenas uma taxa de administração. Isso é uma vantagem em
relação ao financiamento. A desvantagem é que o comprador não tem o carro no
momento que desejar. Ele precisa ser sorteado ou dar um lance, enquanto que, no
financiamento, sai da concessionária dirigindo — explica o coordenador de
estudos econômicos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac),
Miguel Ribeiro de Oliveira.
Oliveira também
fez uma simulação de financiamento de veículo, considerando a taxa média de
2,32% ao mês cobrada pelos bancos. Para um carro de R$ 40 mil financiado em 60
meses, o consumidor pagará R$ 1.241,57 por mês, e, ao final, o veículo sairá
por R$ 74.494,20.
— É uma
diferença de mais de R$ 34 mil para o preço inicial — diz Oliveira.
NOVO SISTEMA VAI
AGILIZAR COMPRA E VENDA
As operações de
compra e venda de carros usados em concessionárias ficarão mais ágeis e menos
burocratizadas a partir de maio. Há duas semanas, o Conselho Nacional de
Trânsito (Contran) anunciou a entrada em funcionamento do Registro Nacional de
Veículos em Estoque (Renave), um sistema pelo qual será possível conferir
on-line a situação de multas, restrições ou qualquer pendência jurídica do
veículo em estoque nas concessionárias.
Na prática, o
que antes era feito no papel, agora contará com um sistema eletrônico, que
interliga Detrans, Receita Federal e secretarias de Fazenda. Hoje, quando vende
um carro a uma concessionária, o consumidor deve preencher, assinar e
autenticar no cartório o Certificado de Registro do Veículo (CRV). Tem ainda
que comunicar ao Detran a venda e só depois a revendedora terá a propriedade do
automóvel.
Com o novo
sistema, assim que a concessionária emitir a nota fiscal de entrada, o veículo
estará registrado no Renave com status de “em estoque”, eliminando a
transferência de propriedade pessoalmente no Detran.
— Todas as
pendências e responsabilidades sobre o veículo poderão ser resolvidas em tempo
real com o Renave — diz o presidente da Federação Nacional das Associações dos
Revendedores de Veículos (Fenauto), Ilídio dos Santos.
A expectativa da
Fenauto é que, com o Renave, o custo e os juros dos financiamentos possam cair,
já que a burocracia será eliminada. O novo sistema não funcionará nas
transações de veículos entre pessoas, que continuam no sistema atual.
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