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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Carro usado ganha espaço nos consórcios

Modelos são mais baratos e não sofrem a mesma desvalorização que os veículos zero quilômetro

 
Preço. Bruno Lima pagou só quatro parcelas
e fez um lance por um veículo usado:
  “o zero quilômetro está muito caro”
- Edilson Dantas

SÃO PAULO - O consultor tributário Bruno Lima pagou apenas quatro parcelas de seu plano de consórcio e arriscou um lance para tentar antecipar a compra de seu veículo. Teve sorte, foi contemplado e, em vez de um veículo zero quilômetro, comprou um Fiat Palio ano 2010. Pagou R$ 21 mil em um carro com ar-condicionado, direção hidráulica e trava elétrica, e quitará a dívida com o consórcio nos próximos dois anos, em parcelas de R$ 650.
— Optei pelo usado para fugir da desvalorização que os carros novos sofrem logo que saem das concessionárias, entre 15% e 20%. Além disso, o zero quilômetro está muito caro — conta.
A opção de Lima, por um modelo usado em vez do zero, reflete uma mudança de comportamento entre os clientes de consórcios que se acentuou de 2014 para cá, com o agravamento da crise econômica. A média mensal de veículos usados comprados por meio dessa modalidade de crédito foi de 24,4 mil unidades em 2016, quase três vezes mais do que os 8.600 carros zero quilômetro. Apenas nos últimos três anos, a compra de usados com as cartas de crédito de consórcios cresceu 56,4%, enquanto a de novos recuou 34,3%.
— É um efeito da crise. E também há uma mudança de comportamento do consumidor, que está preferindo um veículo usado com mais acessórios do que um zero básico, gastando menos — diz Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).
Com uma carta de crédito de pouco mais de R$ 36 mil em mãos, a vendedora Aparecida Diniz foi sorteada e optou por um Fiat Siena ano 2014, com mais acessórios, como ar-condicionado.
— Em um modelo zero, eu gastaria mais para colocar os acessórios. Ao escolher um usado, já pego um carro mais completo — explica a vendedora.
Especializado no mercado automotivo, Raphael Galante, consultor da Oikonomia, diz que a tendência de comprar veículos usados por meio de consórcio também está acontecendo nas compras à vista e nos financiamentos feitos pelos bancos. A Fenabrave, a federação das concessionárias, registrou uma queda de 20,1% nas vendas dos carros zero no ano passado. Já os números da Fenauto, entidade que representa o setor de seminovos e usados, mostram crescimento de 24% das vendas de veículos com até três anos de uso, em 2016.

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— Hoje, existem montadoras que oferecem garantia de até cinco anos. O consumidor que opta por um usado com três anos, ainda leva dois anos dessa garantia, mas paga um preço bem mais em conta pelo veículo do que se comprasse zero — ressalta Galante, lembrando também que o preço dos veículos novos subiu em 2016, mesmo com a queda de vendas.

PRÓS E CONTRAS
O reajuste variou de modelo para modelo, mas, em média, não ficou abaixo de 10%.
Uma simulação feita pela Abac mostra que, para adquirir um carro de R$ 40 mil em 60 meses pelo sistema de consórcio, o consumidor começa pagando uma prestação de R$ 756,67 e termina o plano pagando R$ 851,63. O carro sairá por R$ 48.206,95, uma variação de 20,5% em relação ao valor inicial. Na simulação, a Abac usou taxa de administração média de 0,225% cobrada pelas empresas de consórcio e reajuste de 3% ao ano na prestação. Mas esses valores variam conforme a empresa.
— O consórcio não tem juros e cobra apenas uma taxa de administração. Isso é uma vantagem em relação ao financiamento. A desvantagem é que o comprador não tem o carro no momento que desejar. Ele precisa ser sorteado ou dar um lance, enquanto que, no financiamento, sai da concessionária dirigindo — explica o coordenador de estudos econômicos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.
Oliveira também fez uma simulação de financiamento de veículo, considerando a taxa média de 2,32% ao mês cobrada pelos bancos. Para um carro de R$ 40 mil financiado em 60 meses, o consumidor pagará R$ 1.241,57 por mês, e, ao final, o veículo sairá por R$ 74.494,20.
— É uma diferença de mais de R$ 34 mil para o preço inicial — diz Oliveira.

NOVO SISTEMA VAI AGILIZAR COMPRA E VENDA
As operações de compra e venda de carros usados em concessionárias ficarão mais ágeis e menos burocratizadas a partir de maio. Há duas semanas, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) anunciou a entrada em funcionamento do Registro Nacional de Veículos em Estoque (Renave), um sistema pelo qual será possível conferir on-line a situação de multas, restrições ou qualquer pendência jurídica do veículo em estoque nas concessionárias.
Na prática, o que antes era feito no papel, agora contará com um sistema eletrônico, que interliga Detrans, Receita Federal e secretarias de Fazenda. Hoje, quando vende um carro a uma concessionária, o consumidor deve preencher, assinar e autenticar no cartório o Certificado de Registro do Veículo (CRV). Tem ainda que comunicar ao Detran a venda e só depois a revendedora terá a propriedade do automóvel.
Com o novo sistema, assim que a concessionária emitir a nota fiscal de entrada, o veículo estará registrado no Renave com status de “em estoque”, eliminando a transferência de propriedade pessoalmente no Detran.
— Todas as pendências e responsabilidades sobre o veículo poderão ser resolvidas em tempo real com o Renave — diz o presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos (Fenauto), Ilídio dos Santos.

A expectativa da Fenauto é que, com o Renave, o custo e os juros dos financiamentos possam cair, já que a burocracia será eliminada. O novo sistema não funcionará nas transações de veículos entre pessoas, que continuam no sistema atual.

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