Torque e potência são muito importantes, mas a rotação em
que eles aparecem também
As rotações de torque e potência máxima definem um motor elástico (Divulgação) |
Não é raro dizer em testes e comparativos que um motor é
elástico, seja pela forma como ele desenvolve, ou como reage nas acelerações.
Mas o que exatamente vem a ser isso?
Vamos por partes. Há dois números chave para motores. Eles
dizem respeito à potência e ao torque gerados. Existe uma discussão sobre qual
deles é mais importante para o motorista, mas os dois estão intimamente
ligados.
O torque, medido em mkgf ou kgfm (ou Nm ou lb-ft, dependendo
do país) expressa o trabalho feito pelo motor para realizar certo esforço
independente do tempo necessário para fazê-lo – o importante é levantar o saco
de cimento, independente se levará um minuto ou uma hora.
Já a potência, medida em cavalo-vapor (ou kW ou hp),
representa o torque multiplicado pelas rotações do motor, exprimida em rotações
por minuto (rpm), uma medida que existe em função do tempo (o minuto).
Os números de potência e torque máximos aparecem em rotações
diferentes. Um dos desafio para os engenheiros é desenvolver um motor que
cumpra duas exigências: entreguar a potência máxima na rotação mais elevada
possível, o que teoricamente proporciona maior velocidade, e obter o torque
máximo em uma rotação mais baixa, para que ele tenha força suficiente para
ganhar velocidade de forma mais rápida.
Em automóveis, não basta ter muito torque sem potência. É o
que acontece com tratores: com números de torque bem mais impressionantes que
os de potência, eles são muito fortes para puxar carga e equipamentos, mas não
conseguem ganhar velocidade com rapidez.
Além disso, manter a linearidade (ou seja, um crescimento
progressivo, sem variações abruptas) na geração de torque e potência também é
importante, para que o motor não apresente “degraus” em seu fôlego conforme as
rotações vão subindo.
Quanto maior for a diferença entre a rotação de torque
máximo e a rotação de potência máxima, mais elástico tende a ser o motor. A
consequência é uma boa sensação de força para o motorista, que precisará fazer
menos trocas de marcha para retomadas no trânsito, por exemplo. A propósito, o
ideal é manter as rotações do motor dentro desta faixa de giro, como já
explicamos.
Vale analisar alguns exemplos:
Com etanol, o Peugeot 208 1.2 12V gera 13 mkgf de torque a
2.750 rpm e 90 cv a 5.750 rpm. A diferença entre os dois picos é de bons 3.000
rpm. Concorrente dele, o Chevrolet Onix 1.4 8V precisa girar a 4.800 rpm para
encontrar seus 13,9 mkgf e os 106 cv surgem a 6.000 rpm, modestos 1.200 rpm
distanciando os dois picos. São dois carros que se comportam bem no trânsito,
mas o Onix de fato necessita de mais reduções de marcha, mesmo que os dois
tenham câmbio manual de seis marchas.
Contudo, a potência e o torque nem sempre surgem de uma
forma linear. É aí que entra o gráfico de curvas dos motores obtidos em
dinamômetro (equipamento que mede o torque dos motores).
Os gráficos abaixo são de motores Fiat. A esquerda está o
1.4 Fire Evo, com potência que surge de uma forma bastante progressiva,
enquanto o torque está sempre aumentando (apesar de ficar estável em dois
momentos). É algo que combina com a sensação de boa disponibilidade de torque que
este motorista sente. Mesmo que tenha potência e torque modestos frente ao 1.4
do Onix, ele é mais elástico: os picos estão distantes em 2.250 rpm.
Curva de torque dos motores 1.4 Evo e 1.6 E.TorQ (Divulgação) |
Do lado direito está o motor 1.6 16V E.TorQ. Por volta dos
2.500 rpm a curva de potência passa subir com menos vigor. Neste mesmo momento
o torque tem uma leve queda. Quando introduziu este motor na linha, a Fiat
destacava que 93% do torque estava disponível a 2.500 rpm, mas não dizia que
este número diminuía até por volta dos 3.500 rpm.
Para o motorista, este E.TorQ passa a sensação de que é
necessário levá-lo a altos giros para ter força. Com 1.000 rpm entre potência e
torque máximos, é o motor menos elástico entre os que analisamos brevemente
aqui.
Com ajuda de turbo, injeção direta e duplo comando de
válvulas variável, o motor 1.4 16V TSI da Volkswagen ilustra o mundo perfeito.
Nele, os 25,5 mkgf de torque máximo estão disponíveis desde os 1.500 rpm,
enquanto a potência máxima de 140 cv (este queima apenas gasolina) aparece em
5.000 rpm, resultando em uma garante diferença de 3.500 rpm entre os picos.
Não há dúvidas que este é um motor bem elástico, ou seja: ao
volante, a sensação é de que há sempre potência e torque abundantes em qualquer
rotação, diminuindo a necessidade de trocas de marcha. Além da agilidade, o
consumo também acaba melhorando, pois não há a necessidade de elevar as
rotações em busca de força.
"potência ... representa o torque multiplicado pelas rotações do motor"?
ResponderExcluirNão entendi. Talvez esteja havendo um equívoco aqui. A potência é a quantidade de energia produzida (a partir da queima do combustível) por unidade de tempo. O torque é o momento (tendência de giro) transferido pelo eixo do motor às rodas e depende da força produzida e do braço de alavanca.
Ambos dependem da rotação do motor e não são lineares porque têm a ver com a eficiência do projeto mecânico.