A história
do Fusca usado na Antártida que venceu rali no deserto
Por anos o
principal veículo da base da Austrália na Antártida foi um Fusca vermelho
Base australiana na Antártida recebeu Fusca com pouca preparação para encarar o frio (Australian Antarctic Division) |
Por não usar
água para refrigerar o motor, o Volkswagen Fusca poderia ir a qualquer lugar do
mundo sem medo de ferver ou congelar. Prova disso é que ele fez história até
mesmo na congelante Antártida, dando apoio a cientistas australianos.
O engenheiro
Roy McMahon tinha 28 anos em 1962, quando foi escalado para liderar uma
expedição australiana na base de Mawson, na Antártida. Para cortar custos, foi
atrás da filial da Volkswagen no país e lhes pediu um Fusca.
Com motor e tração traseiros, o Fusca tinha o equilíbrio perfeito para a neve (Australian Antarctic Division) |
A empresa
percebeu que poderia fazer publicidade com isso e não só deu o carro para uso
pela expedição, como também entregou 300 metros de película para que
registrassem as aventuras do besouro no continente gelado e conjuntos de peças
de reposição.
Não seria a
primeira vez que um carro colocaria suas rodas na Antártida. Houve duas
tentativas no início do século XX, com um Arrol-Johnston 1907 que mal conseguia
sair do lugar e um Austin 7 ano 1927. O problema é que ambos eram inúteis: não
resistiam ao frio e quebravam constantemente.
Chamado de “Red Terror”. Fusquinha era usado nos deslocamentos diários da expedição australiana (Australian Antarctic Division) |
Apesar de
ter sido fabricado no calor da Austrália, o Fusca vermelho entregue a expedição
de McMahon recebeu as mesmas modificações dos carros que eram destinados a
países muito frios, com direito a medidor de pressão de óleo, proteção de
alumínio na tomada de ar do motor para evitar a entrada de neve, protetores nos
coletores de admissão e pneus de inverno com corrente nas rodas traseiras.
Depois de
três meses navegando, o Fusca desembarcou na base de Mawson, onde recebeu a
placa “Antarctica 1”. Mas não demorou para receber o apelido “Red Terror” (ou
Terror Vermelho em português), tamanha a competência para encarar as
intempéries do continente.
Com corrente nas rodas traseiras, o Fusca era mais rápido que os veículos movidos por esteiras (Australian Antarctic Division) |
Com óleo de
baixa viscosidade no motor e um pouco de querosene misturada da gasolina para
ajudar na lubrificação, o motor do Red Terror pegava com facilidade em
temperaturas de até -38°C. O motor traseiro em cima do eixo de tração ainda
garantia a distribuição de peso ideal para encarar a neve e o gelo: era bem
mais rápido que os veículos com esteira usados na base, que mal passavam dos
8km/h.
Mas nem tudo
era perfeito. O vento intenso fazia com que as portas se dobrassem a ponto de
bater nos para-lamas dianteiros e o frio não foi capaz de evitar a clássica
trinca do “chapéu de Napoleão”, parte do chassi onde o eixo dianteiro é fixado.
O Fusca em meio aos Pinguins Imperiais (Australian Antarctic Division) |
Mesmo assim,
o Red Terror era o veículo preferido dos 25 cientistas que trabalhavam na base
australiana. Era usado tanto para levar passageiros ao aeroporto próximo da
base como para ir a locais distantes para fazer medições do gelo. E foi assim
que em três anos e meio o Fusca vermelho cereja percorreu respeitáveis 24.000
km.
Pode parecer
pouco para quem dirige todos os dias, mas nenhuma viagem foi maior que 19 km
(que levavam cerca de 50 minutos para serem percorridos). Além de mais rápido,
era mais econômico que as outras alternativas disponíveis.
“Red Terror” foi substituído por outro Fusca vermelho em 1964 (Australian Antarctic Division) |
Depois de um
ano e meio, o Red Terror voltou para a Austrália. Mas não teria sossego: dali a
poucas semanas se sagrou campeão do BP Rally 1964, depois de percorrer 3.200 no
Outback, o deserto australiano, em temperaturas completamente opostas às das
enfrentadas meses antes.
Ainda em
1964 a Volkswagen enviou outro Fusca vermelho para a Antártida, que cumpriu
serviço até 1967, quando caiu no mar após uma placa de gelo ceder.
Foram 24.000 km percorridos no gelo em um ano e meio (Australian Antarctic Division) |
Apesar da
importância histórica, o Red Terror foi esquecido. Em vez de ter ido parar em
um museu depois do rali, simplesmente desapareceu: o último registro dele que
se tem notícia é de 1966.
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